Nas telas brasileiras, é ele quem dá voz ao Homem-Aranha, Michaelangelo, Tobby e muitos outros personagens, sendo responsável por fazer a diferença nas produções cinematográficas. Wirley, de derivação mexicana, é um nome criado por seus pais a partir de Wesley. O primeiro sobrenome, Grosso, é de origem italiana; e Contaifer é de origem alemã. Ator-dublador nascido em 21 de setembro de 1990, ele é nascido em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, terra da qual tem orgulho de fazer parte.

‘’Caxias é a minha terra. Tem muitos sonhadores do lado de cá, é o chão que me viu nascer e crescer. Torço para o Duque de Caxias Futebol Clube, e temos que valorizar o que é parte de nós, porque foi o território que colheu minha lágrima e fez nascer o meu sorriso’’.

Sem dúvidas, o que marca Wirley é sua voz. Em meio a seus olhos verdes, sorriso largo e cabelo loiro, é a voz que arranca o sorriso, o choro, o grito e a surpresa daqueles fãs que falam com ele. Entre suas primeiras palavras sobre si mesmo, é impossível não imaginá-lo dublando todos aqueles personagens que surgiram para o público brasileiro com sua assinatura vocal. Assinatura essa que, antes de estar nos personagens, está estampada na figura dele, que vive diariamente um sonho por intermédio da voz.

Mas engana-se quem acha que ele é apenas uma voz. Aos 29 anos, ele, que tem bom gosto para música, ouve de Elvis Presley a um bom samba de raiz. Eclético, elétrico e hiperativo são algumas de suas muitas características. Como um Batman em parte de sua essência, ele é observador e não é muito fã de falar sobre si mesmo, pois gosta de estar sempre nas sombras de Gotham City, mantendo sua vida pessoal longe dos holofotes. Mas em alguns momentos se sente à vontade para dizer algo. Afinal, quem é Wirley por trás das sombras no alto do prédio com sua ‘’Batvoz’’?

Sua infância foi marcada pela intensa brincadeira de radialista criada por ele a partir da chegada de seu pai com um microfone. Os programas, assim como os personagens, ficaram gravados em uma fita cassete. Havia músicas da época, convidados e muita imaginação para criar histórias. Seus amigos eram parte da brincadeira, todos embarcavam naquela onda, e está aí o valor da amizade para Wirley, que viu seu sonho sendo moldado a partir da ajuda dos seus amigos.

Sempre atento a vozes, ele tinha como suas séries favoritas, quando pequeno, Chaves e Chapolin, porque eles sempre foram múltiplos sendo eles mesmos, o que é um bom retrato do que é ser dublador. E foram elas que despertaram seu interesse para o que era a dublagem. Com poucas informações sobre a profissão na época, foi após uma entrevista com o ator Roberto Gómez Bolaños em um canal de televisão aberto, falando em seu idioma original – espanhol –, que Wirley descobriu que ele não falava português como imaginava. Após esse dia, suas perguntas começaram a ter respostas, e foi ali a descoberta da profissão que ele iria seguir na vida. 

Na adolescência, houve diversas tentativas e, na maioria delas, era corriqueiro o “não”. Mas, ao contrário de muitos, ele nunca desperdiçou aqueles “nãos”. Cada resposta negativa servia de combustível para correr atrás do que queria. Mas com as responsabilidades aumentando dentro de casa, surgiu a necessidade de conseguir um trabalho. Sua decisão foi procurar emprego em livrarias, onde ele gostaria de estar por amar livros, e em lojas, para lidar com o público, mas não obteve sucesso.

Seu primeiro trabalho surgiu como um despertar, em meio ao período escolar. Em 2004 entrou para o curso de dublagem do Christiano Torreão, no qual teve a chance de estudar com o Pietro Mário e com Dário de Castro. Sua estreia aconteceu aos 14 anos no filme Cruzada, em maio de 2005. Logo mais tarde surgiram outros trabalhos, mas aquele que mudou sua vida foi o personagem Michaelangelo, das Tartarugas Ninjas.

‘’O Michaelangelo moldou a minha aproximação com as crianças, porque passam a desenhar em mim a figura de um herói. E quando se tem a oportunidade de encontrar fãs mirins que vivem a magia do personagem, assim como eu também vivi quando criança, isso se torna mágico. É esse o poder emocional que uma voz tem’’.

Wirley avista uma nova oportunidade chegando em sua carreira, dar voz ao Michelângelo
Foto: arquivo pessoal

Sua qualidade está na forma íntegra de se colocar em tudo, com o objetivo de ser o melhor da forma que puder, sempre conservando e cultivando seus pés no chão. Já seu defeito é ser ”muito enrolado”. Com a rotina agitada, ele tem dificuldade de se dedicar a muitas tarefas ao mesmo tempo, mas em meio ao sorriso, diz que tenta e se permite fracassar às vezes.Virginiano, ele assume gostar desse misticismo que envolve os signos e se identifica com a descrição das pessoas de virgem, que estão em constante movimento e são curiosas, querendo conhecer de tudo um pouco e ávidas por conhecimento.

E todo o estudo feito ao longo da sua vida foi recompensado ao ganhar seu principal personagem, o amigão da vizinhança Peter Parker. Sem que a tia May soubesse, o Homem-Aranha foi para a Guerra Civil, depois esteve de volta ao lar e ficou um pouco longe de casa, passando por Vingadores Guerra infinita e o Ultimato. E em todas essas aventuras, Wirley estava lá para dar voz a ele.

‘’Foi uma enorme responsabilidade, foi inacreditável porque era uma coisa totalmente fora da consideração que eu poderia traçar como ator, dublador e fã. O Homem-Aranha era mais que um herói, era um personagem humano, porque eu acho que o maior super-herói é aquele que é mais humano, que tem mais tendência a falhar’.’

Wirley em evento com vários fã vestidos de homem-aranha em homenagem ao dia do cosplay
Foto: arquivo pessoal

Em boa parte dos seus trabalhos, seu companheiro de cena foi o Capitão América, que é dublado por Eduardo Espinoza, um dos seus melhores amigos na vida. Eles trabalham juntos diariamente e, com simplicidade, Eduardo afirma que Wirley é um dos maiores profissionais da nova geração e que o admira por sua versatilidade e sua entrega de corpo e alma ao trabalho.

‘’Como pessoa eu considero um irmão, ele é grandioso. Falar do Wirley é falar de uma pessoa que está além da espiritualidade, é uma pessoa que tem uma missão muito forte na Terra, que é trazer o que Jesus deixou de maior ensinamento, que é o amor. Ele é um mensageiro do amor porque é uma das pessoas mais iluminadas que eu já conheci na minha vida’’.  

Seus companheiros de trabalho: à esquerda, Marco Ribeiro, que dubla o Homem de Ferro; ao centro Duda Espinoza, que dubla o Capitão América; e à direita Wirley
Foto: divulgação

Essa mensagem transmitida por ele diariamente por intermédio do trabalho se transformou em encanto. A magia do cinema vai muito além do que se possa imaginar. Dentro de casa, Wirley tem seu maior exemplo, que é seu irmão, chamado carinhosamente pela família de Binho. Especial de muitas formas, ele é autista, fato que não o torna diferente. Quando vê uma animação, cores, e um som que ele consegue entender e compreender dentro das suas limitações, ele se alegra, principalmente quando está na voz de Wirley.

E a mágica acontece quando, de frente para a televisão, ele se surpreende com a voz de seu irmão, e, com os olhos bem atentos, presta a máxima atenção. Quando identifica aquela voz que para ele é familiar, seu olhar imediatamente vai ao encontro de Wirley, que sorri e responde com um gesto que ele rapidamente compreende, sendo esse um dos momentos mais ricos de sua vida na profissão.

‘’Ele tem as asas dele, não vemos mas ele tem. Por ser muito atencioso, ele observa, escuta minha voz e seus olhos vão ao encontro do meu de forma que, por meio de gestos, ele entende o que quero dizer. E está aí o valor daquilo que eu faço, porque faço para quem não conheço e principalmente para quem é parte de mim. E isso é dublagem’’.

Thays Santanna – 3° período